A vida de uma malabarista

Caroline em sua apresentação de malabares com claves.

Nascida em vinte e quatro de setembro de mil novecentos e noventa, Caroline Aline Rigoletto Querubim é formada em Educação Física e atua como malabarista. Vinda de família tradicional de circo, Caroline integra a quarta geração circense da sua família e começou a atuar na profissão com quatorze anos.
A minha vida toda eu passei no circo, mas eu fui fazendo vários testes em várias áreas até eu me descobrir malabarista. Na verdade, seguir essa carreira foi super comum, pra mim é o meu ambiente. Quando eu era criança eu não queria ser de circo porque eu era muito “zero” à esquerda, eu tentava fazer um número aéreo (que minha família é toda trapezista, fazem números aéreos), eu tinha muito medo. Minha mãe tentou me ensinar, eu não gostava, então ela me deixou escolher. O meu pai não era de circo, daí o meu pai conheceu a minha mãe e fugiu com o circo, então também foi um pouco de influência dele, ele era da cidade, meu pai era bancário, agora, entrou pro circo, virou palhaço, foi totalmente diferente, deu uma reviravolta nele, então eu queria mesmo era sair do circo, morar na cidade, estudar, quando eu era pequena eu pensava nisso, mas depois que eu descobri o que eu gostava que era o malabares, que é minha paixão, eu percebi que eu não precisava sair do circo pra poder estudar, fazer uma faculdade, eu podia conciliar todas as coisas que eu gostava mais, e fazer tudo o que eu queria, então eu consegui descobrir uma profissão que eu amo, continuar a tradição da minha família, estudar, então eu consegui fazer tudo dentro do circo. Meus pais me deixaram muito livre pra escolher se eu queria ser de circo ou não, e eu escolhi ser.
A artista quando questionada sobre qual outra profissão seguiria se não fosse circense, comentou que nem na época da faculdade se imaginava saindo do circo, mas que se formou pensando no futuro –Eu ainda nem sei, eu quero curtir bastante o circo, ficar bastante no circo.
E quando foi questionada sobre o dia em que não mais puder estar atuando no palco, ela respondeu –Ah, eu não sei ainda, eu pretendo crescer muito ainda dentro do circo, porque o circo é dividido em várias áreas, tem a área administrativa, tem a artística, tem de logística, tem várias áreas no circo, é uma mini empresa e uma mini cidade aqui dentro, então quando eu parar de ser artista, que eu espero que isso demore um pouco, eu pretendo cuidar da produção artística de um espetáculo, ter outras responsabilidades dentro do circo, mas se mais pra frente eu mudar, eu não sei, eu pretendo ainda continuar trabalhando com o corpo , com saúde, eu gosto muito dessa área.
Segundo Caroline, o malabares é um número que exige muita técnica e concentração, porque você está manipulando objetos no ar, então é necessário bastante treino.

A malabarista exibe seu número sentada no chão.

Hoje eu cheguei num estágio que eu não treino mais tantas horas por dia, eu faço mais a manutenção, então hoje eu treino uma duas, três horas por dia, mas no começo quando eu treinava número, eu chegava a treinar oito horas por dia. Tem erros, até hoje tem erros, mas são erros que eu já sei como driblar na hora do palco, antes eu não sabia, tinha muito nervosismo no palco vendo a platéia.
A malabarista afirmou não seguir uma alimentação muito específica, que evita comer “besteiras” para o corpo estar bonito, já que na carreira de circense trabalha muito com o corpo.
Um fato marcante na carreira da artista foi sua estréia no circo, na época começava sua carreira no mesmo circo em que sua família atuava em São Paulo – E eu sempre fui a rejeitada da família “não, a Carol nunca vai ser de circo, nunca vai ser de circo, não nasceu pro circo”, e eu dei a reviravolta em todo mundo e falei “não, olha aqui, eu vou ser de circo sim”, então foi muito emocionante a minha estréia.
Caroline Rigoletto é a única malabarista feminina do Brasil que faz malabares com seis claves (pinos de boliche) – No Brasil são poucas meninas que fazem malabares e são muitos homens, então eu escolhi uma profissão que tem o domínio mais masculino, e eu me dediquei muito, eu tenho um nível muito alto no malabares, então eu ir em encontros de malabares , em convenções de malabares, em encontros de circo, e ser reconhecida por eu ser uma malabarista mulher, e eu poder apresentar meu trabalho, eu fico muito feliz (...) É por isso que eu quero cada vez treinar mais, o reconhecimento da profissão é muito bom.
Rigoletto revela que os figurinos de suas apresentações é ela mesma quem escolhe de acordo com seus números do espetáculo, depois os apresenta para o produtor do espetáculo, e se ele aprovar, é confeccionado o figurino –Aqui eu estou apresentando um número que tem o tema mais animado, pro estilo Rock-in-Roll, é um estilo que tem um pouquinho da minha identidade, e daí eu já até pintei o cabelo pra ficar diferente, pensei um figurino de acordo com o tema do meu número e também com o tem do espetáculo.
 A artista complementa que o circo antigamente espunha a mulher com as suas curvas, usava de mais sensualidade, e hoje não, o circo hoje é visto como um espetáculo voltado para o público infantil –Vem mais criança no circo, então vamos fazer figurinos que valorizam as curvas, mas bonitos, que valorizem também o espetáculo e o artista.
Sobre as viagens constantes feitas com o circo, Caroline diz gostar, mas ao mesmo tempo diz que são muito cansativas –Aqui eu estou sozinha, eu sai de perto da minha família pra conquistar  meu espaço profissional, ser mais reconhecida, às vezes aperta muito a saudade de casa, da família, mas aqui é engraçado, aqui a gente cria uma outra família com todo mundo que tá aqui, então supre um pouco dessa necessidade, a gente vive muito junto, então na verdade o circo é uma grande família, todo mundo tá junto, a gente trabalha a maioria dos dias e passa o dia inteiro juntos trabalhando, então acaba criando um afeto especial por cada um, então cada um vira um irmão, as amigas viram a psicóloga, as mães as mais velhas, então a gente acaba suprindo um pouco dessa necessidade, mas acaba acostumando também a essa vida nômade, pra mim sempre foi muito normal, porque eu sempre viajei muito com o circo, mas tem artistas aqui que faz parte do nosso elenco que vieram viajar para essa temporada, e sofrem muito no começo, mas a gente sempre tá ali dando um apoio porque foi a profissão que escolheu, e a nossa profissão viaja.
A artista diz ainda que a parte mais especial do seu dia é quando está trabalhando, não importando se tem três ou três mil pessoas assistindo seu espetáculo, sempre tem o mesmo amor, porque ama o que faz e quer sempre demonstrar o amor que tem pelo trabalho ao público –Tem dias que a gente está cansada, mas se o público veio prestigiar a gente, não importa se tem muito ou se tem pouco, eles vieram, eles pagaram, então pra mim é muito bom, eu adoro receber o aplauso, eu adoro estar no palco, eu não tenho palavras para descrever o aplauso.
Rigoletto comenta que para continuar seu trabalho se inspira muito em sua família, porque tem uma tradição muito grande no circo, se inspira também em se apresentar e mostrar para o público que gosta do que faz – Eu me inspiro muito em mostrar para o público que eu estou apresentando o que eu amo, que eu passei a tarde inteira treinando sem público nenhum para quando eles vierem tenham esse reconhecimento por mim.

Brincando com fogo: Caroline manipula até estacas de fogo.

Para a malabarista viver é ...viver pra mim é uma felicidade, é um amor, pra mim viver é trabalho também, porque eu vivo muito o meu trabalho, então pra mim viver é um malabares, é o circo, são os meus colegas de trabalho, é estar no palco, viver pra mim é estar no palco.