A vida de um equilibrista

Edwin Vargas sob uma corda: show de equilíbrio.

Edwin Vargas, equilibrista colombiano nascido em vinte e dois de agosto de mil novecentos e oitenta e nove, arte popularmente chamada de caminhar no arame ou caminhar na corda bamba. Tradicional do circo, sempre esteve vinculado com trapézio, equilíbrio e palhaço.
Com treze anos, Edwin já se interessava pelo número do arame, a partir de então, foram em média de dois a três anos de preparo físico pra ser profissional. Com vinte anos Vargas já era artista em outro circo, já fazia o número do arame.
Bom, na verdade eu quis continuar no circo, e a minha maior inspiração foram os palhaços, porque eu gostava muito quando era criança, mesmo quando os palhaços faziam a mesma reprise, eu gostava de saber o que iam fazer, me fazia rir (...), eu ainda gosto dos palhaços, eu me expresso em alguns palhaços, e eu tenho um grande respeito a todos eles, porque eu acho que tem que ter muita coragem de aparecer nas cenas no picadeiro em frente às pessoas, com o propósito de fazê-las rir. E eu gostei em especial daquele número do arame, eu achei meio perigoso, eu gosto de adrenalina, eu gosto de correr risco, gostei, fiquei fazendo o arame no circo.
Se não fosse equilibrista, o artista diz que gostaria de ser professor. E conta sobre o dia a dia de sua profissão –A alimentação é específica até demais, no número de equilíbrio você tem que ser ágil, a pessoa não pode ficar muito pesada, se ficar muito pesada, fica muito lenta, para ela trabalhar melhor, o peso médio não pode passar de sessenta quilos, se passar de sessenta quilos, eu sinto lá o peso, então eu me alimento tomando um bom café da manhã, um bom almoço, e na janta diminuo a quantidade um pouco. Eu ensaio todo dia, o ensaio de manhã dura aproximadamente duas horas e à tarde faço mais uma hora.

Com aparente tranquilidade o colombiano impressiona o público.

Edwin fala sobre um fato marcante na sua carreira –Ah, são muitos, mas superar um biastra em outro país que as pessoas não falam sua língua e você chega lá e está tudo diferente, e eu cheguei lá me Israel, lá fala Hebraico, eu não sei Hebraico, e cheguei lá e não entendia o que as pessoas falavam, e era muito engraçado que eles criavam entre si coisas e achavam que eu entendia, mas eu entendia outra.
O circense parece tranquilo ao falar sobre o dia em que não mais puder exercer a sua profissão, diz que isso é por natureza do circo –As pessoas quando se aposentam deixam filhos, os pais eram os filhos, e os filhos quando os pais estão na idade que se aposentam, os filhos ajudam os pais, os pais tem um circo, tem pais que montaram um circo, cada família trabalha em um circo, e ao final, supomos que eu vire um empresário de um circo pequeno, muito menor que este, o circo fica como um circo familiar, mas fica como um circo escola, circo para as crianças, para os próximos, é assim sempre na tradição da Colômbia, os novos se encarregam dos mais velhos.
Edwin conta que seus pais sempre o apoiaram –Eles diziam “se você gosta, você tem que estudar e também ir lá no circo para ter as duas bases, em primeiro lugar ter as duas bases, não deixar os estudos e ir para o circo, porque ai vai ficar burro”, falavam “você precisa ter conhecimento de números pra saber tudo”.
As viagens constantes são normais para Edwin, que já está acostumado a viajar tanto –Só que fica por dentro uma emoção sabe, uma emoção de viajar, conhecer novas culturas, outras línguas, outras comidas, ai também fica aquilo “poxa, ter que deixar essa gente ai que me apoiou por muito tempo aqui no Brasil, que eu gostei”, então sempre tem aquela emoção de ir, aquela saudade que você também não quer ir, tem esses dois climas.

De olhos vendados: Edwin anda de um lado ao outro da corda.

Vargas diz que a vida no circo vale à pena porque as pessoas escolheram viver no circo porque gostam, elas gostam de agradar o público, gostam de ser aplaudida. E define o aplauso –O alimento dos artistas são os aplausos. Se não tem aplausos, as pessoas não estão cheias por dentro. Quando um artista sai de cena e não esta sendo aplaudido cem por cento, o artista se esforça mais pra ganhar aquela comida, pra se sentir cheio por dentro, e é isso que acontece, o aplauso é nossa comida, é a nossa energia.
Edwin conta que nunca sofreu um acidente em seu trabalho, mas já recebeu muitos alertas –Sempre estive de olho e sempre falo que se for da vontade de Deus(...) eu estou lá em cima, eu trabalho, eu faço a minha parte para estar cem por cento, agora, se é da vontade de Deus, as vezes falo que é Deus quem me guia, eu confio muito em Deus, eu sou cristão, ai eu falo “me ilumina, me dá capacidade de reação para se acontecer algo”, se estou no arame e escuto um barulho, ai eu paro o arame, todo mundo fala “ah, por que parou?” e complemento para finalizar e quando eu desço, olho se aconteceu algo aqui embaixo, olho se havia mexido o terreno, se um parafuso vai estragar, então sempre me da uma alerta, sempre confio em Deus. (...) Às vezes entristece você quando o número não saiu como você queria, porque você queria dar cem por cento, mas você sabe que não pode, às vezes por um problema, então me entristece sair assim e não dar meu cem por cento.
O equilibrista atravessa a corda bamba andando de bicicleta.

A palavra circo é o que motiva a vida do circense –Essa palavra me motiva porque é alegria, porque o circo se condiciona pra gente nesse caso, um círculo de família, mas não são minha família, são todos companheiros de trabalho, amigos, mas na hora que entra no circo, eles são minha família, porque eu trabalho com eles, moro com eles, compartilho muitas coisas com eles. São parte da minha família, por isso o circo é um círculo, todos que moram aqui, mesmo que não sejam artistas, que trabalham na frente, nas vendas, que ajudam no picadeiro, contra-regra, então as pessoas todas se conhecem, aqui todos nos conhecemos aqui no circo, então é difícil dizer que no circo não se está feliz, quando se está com o circo, se fica feliz, fica alegre. (...) Antes de começar o espetáculo, a gente vem por trás do palco, fazemos uma oração, todo mundo começa a falar, a trocar ideia, me deixa feliz o momento sagrado entre todos, de deixa feliz esses detalhes, assim, comunicação, eu gosto muito, me deixa feliz quando a gente se comunica, quando em vez de nos darmos um problema, damos uma solução, eu gosto quando as pessoas me criticam, porque as criticas são boas, é importante escutar as criticas porque você está trabalhando e você não está se vendo, as pessoas ficam com medo de fazer isso pra não magoar e não chatear, mas eu gosto das criticas, porque são criticas construtivas. Eu fico feliz das pessoas me assistirem e prestarem atenção no que eu faço.
Para o equilibrista viver é...eternamente, viver sonhando.