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Show dos tecidos: a acrobata no ar presa pelas pernas e um braço. |
Joyce Giorgi, de São Paulo, tem vinte e
oito, é acrobata e desde os seus vinte anos dedica o tempo ao seu trabalho no
circo –Eu fazia balé clássico
contemporâneo, e ai eu comecei a fazer aulas o circo para ajudar no balé,
comecei a fazer contorção para ajudar na flexibilidade, e depois de seis meses
que eu estava fazendo aulas, a dona do circo me chamou pra trabalhar no
espetáculo fazendo bailado, porque eu já dançava. Ai ela me chamou porque
estava precisando de meninas, daí então eu entrei e estou até hoje, e fui
aprimorando.
Joyce faz acrobacias aéreas, incluindo os
números de tecido, mastro chinês, bambu, corda indiana e já fez um número de triple
trapézio. Ela diz que no início fazia poucos números, apenas tecido e mastro, e
quando trocou o espetáculo teve que aprender novos números.
A artista diz que se não fosse acrobata
seria bailarina, que seu sonho era dançar –Eu
costumo dizer que o circo me escolheu, porque eu nunca imaginei trabalhar no
circo, eu entrei no circo pra me ajudar na dança e acabou sendo o contrário, a
dança me ajudou muito no circo, e eu fui convidada a trabalhar pela dona do
circo, e estou com ela até hoje.
A acrobata conta que o dia a dia da
profissão é bem rigoroso, principalmente quando precisa montar um número –Eu ensaio mais ou menos três horas por dia,
além dos ensaios no aparelho, tem os de preparo físico, porque nós precisamos
ganhar força, precisamos estar leve, precisamos alongar e ter flexibilidade. E
a alimentação saudável tem muita importância, porque a gente trabalha muito. O
nosso corpo precisa estar bem pra poder aguentar a rotina de espetáculos no
frio e principalmente no calor, porque nos desgasta bastante, a gente transpira
muito, então temos que estar com o corpo cem por cento.
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Artistas fazem acrobacias no ar segurando-se em tecidos. |
Joyce relata que o mais marcou sua
carreira nesses oito anos de circo foi o fato de pela primeira vez estar
participando de um circo itinerante, porque sempre trabalhou em circo fixo –Eu sempre fui trabalhar e voltava pra minha
casa, só que no começo do ano, o circo fechou pra mudar de terreno, e como ele
é fixo, é um processo mais demorado, a lona é muito grande, então a dona do
circo falou “oh, pra vocês não ficarem vão lá pra lona lilás, que é itinerante,
ficam lá, e ai quando voltar vocês voltam”, porque nós só recebemos se nós
trabalharmos, então se o circo ficar parado a gente não recebe, ai eu aceitei e
estou aqui, então isso é o marcante, porque trabalhei todo esse tempo, esses
oito anos em circo e nunca viajei (...), é um processo novo pra mim, eu gostei
bastante, é bem legal, conhecer pessoas novas e conhecer essa coisa do circo que
é a mudança.
Dependendo do espetáculo e dos números
apresentados, os figurinos são do circo ou são particulares e elaborados por Joyce
–Na medida do possível, porque tem sempre
uma supervisão da dona, ela não gosta de coisa muito pelada, aquela coisa do circo,
das meninas de biquíni e muito strass, ela jaá não gosta muito, eu também acho
legal isso, pra ver que nós não estamos no circo pra mostrar o corpo, nós
estamos pra mostrar a nossa arte, então eu acho isso até legal, porque as
pessoas as vezes ficam meio receosas, antigamente eu acho né, de ir no circo
porque “ah, vai ver mulher pelada”, não aqui não é assim.
A aposentadoria é um assunto que preocupa
um pouco Joyce, a artista diz que acrobata não exerce a profissão até idade
avançada e coloca em pauta os seus vinte e oito anos, então faz planos para um
futuro próximo, ela quer dar continuidade em sua faculdade que teve de deixar
um pouco em segundo plano por conta da vida circense corrida.
A acrobata diz que conheceu seu noivo no
circo, e isso facilita um pouco as viagens –Imagina
se eu tivesse um namorado em São Paulo?! Quem trabalha com circo itinerante tem
esse problema – E a vida pessoal,
apesar da saudade da família –Eu nunca tinha
viajado com o circo e já estou há dois meses aqui, então a saudade está
gigantesca, se você for conversar com as outras pessoas, tem gente que tem o
trailler e mora no circo, eu não, tive que me adaptar, porque mora junto com
gente que você não está acostumado, são amigos, são pessoas que você está
trabalhando sempre e acabam sendo sua família, porque assim, o circo aluga uma
casa pra nós ficarmos hospedados. É uma experiência muito nova, é bacana, é um
super aprendizado, até pra aprender a lidar com as manias de cada um, com as
características de cada um, você acaba se aproximando desses colegas, porque
nós estamos longe das nossas famílias, então eles são a nossa família.
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A circense exibe-se virada de cabeça para baixo. |
Joyce afirma que vale a pena todo o
esforço que faz pelo trabalho, porque é visível a reação das pessoas, o público
admira e elogia –Isso não tem preço, ver
o público falando bem do seu número, e o pessoal que vende pipoca lá na frente
sempre querem dar uma fugidinha bem na hora do número pra poder assistir ,
nossa isso é fantástico. Eu faço meu trabalho com muito amor.
Para ela, o aplauso é como se fosse o pagamento
–Quando o público aplaude e grita é
sensacional, é isso que nós queremos receber, e se o público estiver meio
desanimado, nós tentamos alegrá-los e é isso que queremos, nós queremos tirar a
emoção deles, queremos que o público saia alimentado de coisas boas, então pra
isso, nos damos ao máximo para eles saírem daqui falando “nossa, que legal,
muito bacana o circo, muito bacana os números, muito bacana o que eles fazem”,
isso é o que existe de mais gratificante.
A maior inspiração da circense é seu pai,
que sofre de esclerose múltipla e já não anda mais, Joyce ajuda a cuidar do pai
–Nós não fazemos nada sozinho, precisamos
uns dos outros para poder seguir, para ter alguma coisa, nós sozinhos, não só
aqui, mas em todos os lugares, não conseguimos ir muito à frente, tendo uns aos
outros, nós conseguimos.
Para a acrobata viver é ...fazer um bom trabalho, se você trabalha
feliz, você vive bem, eu acho isso, você trabalhar com o que você gosta,
trabalhando com o que você gosta você é feliz e vive bem, é isso.