A vida de um palhaço e acrobata

A alegria das crianças: O palhaço Ruxixo.

Hudson Rocha, quarenta e um anos é acrobata e palhaço. Faz parte da quinta geração circense de sua família. Nascido no circo começou a trabalhar ainda quando criança, aos três anos de idade, e aos oito anos já era o palhaço principal de uma companhia de circo no interior de São Paulo, na região de Campinas.
Quando eu era criança, mas muito criança mesmo, coisa de cinco ou seis anos, eu falava que queria ser bombeiro, o que não está muito longe de acrobacia.
Hudson é um estilo de palhaço que se chama Tony Suere, que é um palhaço que faz de tudo um pouco, então ele faz malabarismo, acrobacia de solo, acrobacia aérea, mágica, equilibrismo. Atualmente o artista não ensaia regularmente, somente quando ele quer a melhora de sua performance no palco, então o ensaio fica entre uma hora e uma hora e meia, ou quando há algo novo sendo inserido no espetáculo, então os ensaios ficam em torno de duas horas por dia.
O artista revela não ter uma alimentação específica, mas procura se alimentar bem –Como eu disse, além de palhaço eu sou acrobata, então eu não posso ficar muito pesado, tenho que ter uma boa flexibilidade, fôlego (...) ainda mais palhaço, palhaço tem que ter bastante fôlego.
Rocha comenta que um acontecimento que marcou muito sua carreira foi em um espetáculo que fez quando trabalhava em um outro circo que estava em Fortaleza –Havia um ato que eu fazia antigamente que era uma homenagem a Chaplin, ai havia um momento em que um outro personagem estava em cena e brigava comigo, ai ele batia em mim, eu ficava caído no chão, chorando, daí entrava uma criança da platéia pra me trazer uma rosa, só que essa criança já era do circo, e em fração de segundos quando eu olhei, entrou praticamente toda a criançada do circo, tinha umas quarenta, cinquenta crianças no picadeiro, ai eu tive que acabar a cena ali, a molecada queria abraçar e beijar o palhaço, era uma cena bem comovente. Foi um momento bem marcante, uma coisa que você vê a resposta direta do seu trabalho.

Na parte final do espetáculo: Hudson agradecendo a presença do público.

O artista afirma ter seus próprios figurinos porque tem acrobacias específicas, então tem todo figurino de seus espetáculos. E quando ao dia que sua aposentadoria chegar, ele responde calmamente –Ah, isso chega pra todo mundo, meus pais são aposentados hoje em dia, aposentados entre aspas, porque quando tem algum evento diferente, como é dia vinte e sete de março, dia Internacional do Circo, eles trabalham no circo da cidade onde eles moram, que é Sorocaba. E como já diz né, aposentar (...) então não vou fazer nada. Como dizia o meu vô “Nessa vida eu vou até aonde Deus quiser” vamos ver o que que vai dar, o futuro a Deus pertence, eu espero trabalhar por muito e muito tempo.
Hudson conta com muita tranqüilidade e naturalidade sobre as viagens que faz constantemente –Sou nascido em Sorocaba, interior de São Paulo, eu viajo com o circo, sou nascido em Sorocaba porque o circo estava lá, se ele estivesse no Rio, eu era carioca. Eu como no circo, eu bebo no circo, durmo, moro, o circo não é só a minha casa, não é só o meu trabalho, o circo é um mundo a parte pra gente. Pra mim essas viagens são normais, eu já nasci assim viajando (...) pra mim o que não é normal é que nem você, ficar parado todo dia no mesmo lugar, o que você deve achar que é uma loucura eu ficar andando, pra mim é muito mais louco você abrir a sua janela e é o mesmo quintal toda semana, todo dia, o meu não. Agora eu estou em uma unidade que é fixa em São Paulo, vim para o Rio para essa temporada, mas quando eu voltar, volto pra unidade fixa.
A maior inspiração do artista é o circo, e o que mais lhe entristece é quando não recebe o reconhecimento esperado pelo trabalho que faz – Tem gente que olha assim “Nossa, o cara entrou ali, trabalhou cinco minutos”, mas o cara não imagina o tanto que você ensaia e treina pra poder se apresentar cinto ou dez minutos. Sem contar que em cinco ou dez minutos, é difícil acontecer, mas é uma coisa que caminha com o artista circense, o óbito, ele está de ponta cabeça, ele está virando pra lá, ele está virando pra cá, e não para de viajar, essas estradas do Brasil são tão perigosas. Então, quando o público te aplaude, (...) o aplauso do público é o troféu, é a medalha que você esta fazendo o certo, e vai continuar fazendo. Dai eu me sinto realizado.
Para o palhaço viver é ... no circo.